Quando falta fôlego

Creio que todos nós já passamos períodos onde se falta fôlego, falta àquela vontade de continuar, e vem a sensação de que seja qual for o seu combustível ele com certeza terminou mais rápido que gasolina em greve de caminhoneiro. Na psicologia temos o chamado efeito burnout onde, de forma bem simplificada, pessoas que passam bastante tempo em situação de muito stress e pressão sucumbem, tendo problemas psicológicos e físicos.

Somos seres humanos falhos e fracos, é verdade, e ainda por cima, quando nos deparamos nessa situação, sempre a pioramos ainda mais olhando para exemplos de pessoas que já passaram por coisa muito pior e superaram sem reclamar tanto como você está reclamando agora. E isso nos coloca onde? Seres incapazes de se corrigir, e buscar melhores caminhos? Ou apenas preguiçosos que querem um atalho?


Nada disso! Se analisarmos em confronto com a Bíblia, rapidamente podemos nos deparar com Paulo deixando bem claro em 1 Coríntios 10:13 “...E Deus é fiel; ele não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar...“. Todos têm um limite. É verdade também que passamos muito tempo para descobrirmos isso, às vezes da pior forma, o que é assunto para outro texto, mas sabemos bem que tudo o que recai sobre nós é para glorificar a Deus. 

A Alegoria da caverna oca

Falar em sofrimento é lembrar do coitado do Jó. No capítulo sete do livro, Jó debate com seus amigos que vieram a princípio para confortá-lo, mas ao perceberem o que Jó estava dizendo, logo mudaram para um tom de acusação, sugerindo que Jó tinha pecados encobertos. E qual é a dificuldade de Jó em explicar que os males que sofrera não fora causado por transgressões, antes, pelo contrário, ele tinha uma vida íntegra adornada por boas obras. Empreitada maior ainda era explicar para si mesmo o porquê das coisas.

Lembro-me de uma aula de escola bíblica, quando a turma discutia esse sofrimento sem sentido de Jó. Especulamos e filosofamos até que eu senti um milésimo do sentimento de Jó. A Bíblia não nos respondia. Cada vez que fazia uma pergunta ao texto, recebia muitas outras, como alguém que questiona o interior de uma caverna vazia e recebe a mesma interrogação replicada e replicada pelo eco.

Sem resposta então, Jó cogita diversas vezes se defender perante Deus (Jó 10.2; 23.3-4), e ao concluir que perante o Senhor até calado ele está errado (Jó 9.14-20), ele chega a desejar um advogado, um intercessor, que pudesse trazer-lhe respostas de Deus. 

“Se tão-somente houvesse alguém para servir de árbitro entre nós, para impor as mãos sobre nós dois, alguém que afastasse de mim a vara de Deus, para que o seu terror não mais me assustasse!” [Jó 9.33-34]

A Resposta é futura

O americano Timotty Keller nos mostra como o cristianismo tem uma resposta profunda ao sofrimento de Jó e o nosso [1]. Ao olhar para o Cristo crucificado, temos a resposta de Deus a essa torturante distância. Não precisamos olhar para exemplos de grandes superações ou para os livros de autoajuda, basta que fiquemos aos pés da cruz do homem que bradou “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste”.

A cruz nos escancara um Deus que se faz presente em nossa realidade, se põe como titular de nossa dor e se põe como elo entre nós e o Criador. O que Jó desejou, nós possuímos. Hoje, temos um intercessor homem (1Tm 2.5) capaz de se compadecer de nós (Hb 4.14-16). E isso muda todo o sentido do sofrimento.

Além disso, a ressurreição de Jesus nos dá esperança. A promessa de um corpo glorificado junto ao Pai, onde todos as cicatrizes serão curadas, nos faz repousar a cabeça no colo do nosso Redentor e receber um afago. Jesus de Nazaré é a resposta.

A resposta se faz presente

A soberania de Deus é algo incontestável em toda a bíblia, Ele criou tudo o que existe, sabe de todas as coisas e está em todos os lugares. Porém muitos admitem que acreditam em Deus com essas características, mas não enxerga no que isso implica em suas vidas. Quando lemos que sabe quantos fios de cabelos existem nas nossas cabeças, não é uma demonstração de uma habilidade impressionante matemática, mas sim uma forma de mostrar sua soberania. O que é mais comum de ver na bíblia para você? Bem para mim, sempre espero que Ele transforme algo pequeno em grande, um pecador em um santo, o impossível no possível. Isso nada mais é do que Ele dizendo, eu sou soberano sobre tudo e me importo com você.

Voltando a história de Jó, no final Deus fala com ele, deixando claro sua soberania e total controle sobre todas as coisas. Então lendo isso passei admirar ainda mais Jó por sua capacidade de viver em meio aquilo tudo sem saber o porquê estava acontecendo, mesmo no fim, não há uma explicação clara para ele, e se aquilo teria consequências boas para sua vida, apenas entende que Deus é maior do que tudo, e tudo na sua vida está nas mãos de Deus. 


Nesse momento comecei a me perguntar como lidamos com isso hoje, quando não entendemos algo ficamos indignados, e chamamos de injustiça, facilmente nos rebelamos, e concluímos que se aquilo não faz sentido para nós, com certeza está errado e precisamos resolver tudo pelos nossos próprios meios. Mas há aí um grande problema: Jó não sabia que como aquilo ele viria a abençoar os amigos os quais o acusaram, ou que o relato da sua história, iria resistir de gerações a gerações encorajando tantas pessoas a continuarem persistindo em meio às adversidades da vida. E isso é algo tão claro para nós hoje, porque o que Jó resistiu sem entender, nós recebemos todas as explicações possíveis na vida de Jesus e seus ensinamentos.

Notas

Uma música que encontrei há alguns anos foi Estou sem fôlego de Fred Arrais. Gosto muito dela, sua letra é simples e curta, tratando de quando nos encontramos vazios e quebrados, e seu refrão é pedindo por fôlego de Deus e seu sopro de vida, esse sopro é demonstrado no Salmo 104, onde toda a soberania do Senhor é revelada: “Quando sopras o teu fôlego, eles são criados, e renovas a face da terra” (Sl 104.30). É esse fôlego que devemos buscar sem cessar, somente ele vai nos levar a viver na plenitude das nossas vidas, ao respirarmos, encontraremos a paz, que só aqueles que confiam no Senhor têm.




[1] KELLER, Timothy. A fé na era do ceticismo. Editora Vida Nova, 2015. 

Comentários

Postagens mais lidas no mês

Entendendo a piada - #1

Política é coisa do capeta? - Política #1

A teoria Dragon Ball Z - Política #3