Inteligência Humilhada - Conhecimento #4

Flickr: Andrew Seaman
É comum em Igrejas pequenas aquele pensamento de repúdio ao uso da razão no exercício da fé cristã. Por outro lado, é possível ver jovens que se apegam ao estudo teológico com tanta gana, mas não se entregam ao que estudam e não exercitar o temor. É o embate entre os fideístas (os que defendem apenas a fé) e os racionalistas (aqueles que defendem apenas a razão).

Entretanto, nenhum desses dois posicionamentos é saudável. O fideísmo acaba por gerar uma crença cega, enquanto o racionalismo puro sufoca a vivacidade do Evangelho. É ai que entra um conceito cunhado pelo pastor Jonas Madureira, que busca apaziguar esse dilema: é a inteligência humilhada [1].

Sujeito do conhecimento

No primeiro post da série conhecimento, foi discutido como Deus explica Deus. Ou seja, Deus se revelou ao homem. No post anterior da série, foi abordado o produto dessa revelação: a Bíblia. A perfeita, infalível e poderosa Palavra de Deus. É a partir daí (e analisando a epistemologia [2] de nomes como Agostinho, Calvino e o cientista Pascal) que o Jonas traz o seu conceito.

Ele traz a noção de que o homem, entendendo que Deus se auto revelou e que a Bíblia é Sua santa revelação, tem que reconhecer que na verdade, não é o homem que conhece, mas Deus. Dito de outro modo: o homem conhece apenas o que Deus revelou. Não há mérito algum no conhecimento que temos de Deus, pois foi Ele quem possibilitou. Fazendo uso da teologia agostiniana, Jonas vai afirmar que Deus é o sujeito do conhecimento, e não o objeto. Isto é, não se estuda Deus em laboratório e nós criamos uma ciência de Deus. Antes, Ele é quem é o autor de Sua "ciência".

Pensando os pensamentos de Deus

Por isso, aquele que se debruça em conhecer a Deus tem se se sujeitar a Deus, pois entende que só poderá alcançar aquilo que o Senhor permitir. A razão não é suficiente para o conhecimento de Deus. Ela deve estar submissa, humilhada. John Stott, citando Kepler (o astrofísico responsável pelas Leis de Kepler) diz: "os homens podem pensar segundo os pensamentos de Deus" [3].

Tampouco o conceito de inteligência humilhada exclui a razão. Ela entende, conforme vim destacando durante a série, que a razão é útil sim para conhecer a Deus. Ele se revelou em linguagem humana racional, usou de exemplos e alegorias que os homens podem entender, apela constantemente para o uso de nossa mente. Entretanto, a mente, presa pelos efeitos noéticos [4] do pecado, vê apenas por espelho, em parte, conforme Paulo afirma em 1Coríntios 13.

Outros posts da Série:

Coram Deo

Mas Deus, sendo sujeito e autor do conhecimento, não se revela a todos. Antes, revela-se a quem quer (Lc 10.21-22; 1Co 2.9-15). "O Senhor confia Seus segredos aos que O temem" (Sl 25.14). Portanto, fazer teologia é para os que O amam. Não é simplesmente aprender o que outros disseram, decorar o que outrem escreveram, decorar vários conceitos teóricos. Isso no máximo é ciência da religião. Fazer teologia é para aqueles que amam ao Senhor, para os Seus eleitos que creem e se submetem à autoridade máxima das Escrituras. Fazer teologia, portanto, conforme Jonas cita Agostinho, começa coram Deo. Começa com uma disposição para estar diante da face de Deus. 

Por isso, a oração assume um papel fundamental para quem busca conhecer a Deus, pois é na oração onde o homem estar coram Deo, diante da face de Deus. É na oração onde a teologia não põe Deus na terceira pessoa (Ele), mas na segunda (Tu). É na oração onde estamos ao pé da cruz.

Portanto, conhecer a Deus é para aqueles que O amam e O temem. "O temor do Senhor é o princípio de toda a sabedoria". Não é para os frios na fé. Pelo contrário: é para os que amam ao Senhor e ouvem a Sua voz. O amor é a força motriz do verdadeiro conhecimento do Deus criador. Sendo assim, ore, caro leitor, para ser movido pelo Espírito da Verdade. Que ele lhe inflame de amor pelo Criador e lhe ponha coram Deo.

Referências

[1] Até o dia da postagem, o livro do Jonas, "Inteligência Humilhada", estava em pré-lançamento (quem quiser me dá...). Também não achei nenhum trabalho acadêmico a respeito. Então minhas referências são as suas aulas ministradas aqui:
[2] "Epistemologia é o ramo da filosofia que tenta explicar a natureza do conhecimento".
MORELAND, J. P.; CRAIG, W. L. Filosofia e cosmovisão cristã. Editora Vida Nova, 2005.
[3] STOTT, J. R. W. Crer também é pensar. 1ª edição. Editora ABU, 1972.
[4] Efeitos do pecado na mente humana de, por exemplo, de obscurecer o entendimento.

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