Tirem as músicas gospel da Igreja

Flickr: Pabak Sarkar
Se há uma deficiência nas congregações contemporâneas é no que se refere aos cânticos ministrados nos templos. Está cada vez mais difícil delimitar o que é razoável e o que não é. Isso porque já trilhamos um longo caminho distante dos preceitos bíblicos para o louvor, e voltar até eles requer um esforço e humildade que nem todos os líderes desejam empenhar.

O caso ficou sério quando o termo "música gospel" já soa pejorativo pra alguns. Entretanto, o termo em si é até sugestivo: vem do inglês "God spell", que seria algo como "Palavra de Deus" ou ainda "Boas novas de Deus", em alusão ao Evangelho. São excelentes expressões para definir o que seria um cântico congregacional. Assim, vemos que o que se perdeu não foi o significante (a palavra) mas o significado (o que ele quer dizer).

Atualmente, entra no pacote gospel qualquer coisa voltado ao nicho de pessoas que se proclamam religiosas. E não precisa nem falar em Deus pra entrar na categoria. Quer ver? Quem nunca conversou com alguém sobre a polêmica em torno da banda Catedral? Outro exemplo é a música "Se eu quiser falar com Deus" do Gilberto Gil. Ninguém vai dizer que ela é uma música gospel, e o motivo será porque ele não visa atender o público gospel.

Então, fica a pergunta: o gospel é válido hoje? Quais os critérios para essa análise?
Ora, a Palavra é nossa regra de fé e prática. É nela que tiramos as diretrizes para a prática dos cânticos no templo, e não no mercado musical ou nas tendências populares. A voz do povo não é a voz de Deus; a Palavra é a voz de Deus. Assim, devemos examinar as Escrituras a fim de encontrar diretrizes para a execução de músicas nas Igrejas. Então, listemos alguns, e os outros virão em posts futuros =).

1. As músicas devem louvar a Deus

É óbvio! Se a intenção é a seleção de músicas que louvem a Deus, esse deve ser o parâmetro. Sim, é óbvio, mas não é a realidade. Pare pra lembrar de quantas músicas você já cantou na sua comunidade que passam a mensagens como "o que eu quero é adorar" ou talvez "Então eu direi: abra-se o mar" ou ainda "Deus não desiste de mim"? Isso sem falar dos famigerados sabores e restituições.

O ponto em questão é: as letras necessitam falar da natureza do Senhor e seus atributos, além de enaltecê-los! Isso é louvar; isso é uma prestação de culto. Você elogia o alvo de sua adoração. É isso que o salmista traz no Salmo 34.1-3. Sendo assim, qualquer canção que apareça - em quantidade e/ou ênfase -majoritariamente a primeira pessoa (eu) que a pessoa de Cristo, não é uma música válida para o louvor simplesmente porque não é louvor.

Certa vez, fiquei surpreso quando levei meu irmão para andar da praça da cidade e ouvi as canções na Igreja Católica lotada ali próximo. Eu ouvi bem mais o nome de Cristo que de Maria ou dos santos. Poucos dias depois, ao ir numa igreja protestante, eles se deram ao luxo de ter em sua playlist alguns cânticos em que não haviam espaços para o nome do Senhor. Há, detalhe: não é a Igreja Católica que defende o Solus Cristhus.

2. As músicas devem estar centradas na Palavra

Isso também é claro. Aliás, foi com esse axioma para a listagem desses critérios. Se nossa adoração deve ser feita em Espírito e em Verdade (Jo 4.23), e a Palavra de Deus é a Verdade (Jo 17.17), então por que preencher os versos com experiências, histórias pessoais, desejos e etc.? Indo mais uma vez para Salmos, vemos: "Os teus estatutos têm sido os meus cânticos" (Sl 119.54).

Sem contar que a não observação desse princípio leva a canções de sentidos ambíguos, sujeitos a interpretações que induzem a ideias não bíblicas, e eu não preciso dizer o quão nocivo isso é. Mas isso são cenas para os próximos capítulos...

Mais sobre hinos:

3. Cânticos congregacionais devem ser congregacionais

Deixe-me explicar. Em Atos 4.24 Lucas retrata a adoração conjunta após a exposição do Evangelho por Pedro. Nada ali era pessoal, mas coletivo (v. 32). Em Colossenses 3.16 Paulo mostra como, baseado na Palavra, os hinos se tornam espirituais e assumem um papel dentro do Corpo de Cristo de ensino, admoestação e ação de graças.

Assim, altos volumes que mal permitem você ouvir seu próprio louvor a Deus, tonalidades que dificultam algo que deve fluir facilmente, solos e arranjos (inclusive vocais) que em nada acrescentam e somente acentuam a individualidade em detrimento à coletividade, tudo isso somente atrapalha a Congregação, além disso, esses detalhes incutam a ideia de uma adoração que emana dos músicos, quando na verdade ela vem de todo o Corpo de Cristo. Os músicos só estão conduzindo o momento, facilitando o cântico em conjunto.

Por fim, respondendo à pergunta sobre a validade do gospel atualmente, podemos dizer que ser gospel somente não é selo de qualidade pra a Igreja. Procuremos então músicas sacras, isto é, santas, separadas para o louvor Deus. Façamos o óbvio.

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