Teologia no futebol

Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press
"Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros" (Fp 2.4, NVI)

Na semana passada os boleiros de plantão debateram sobre a atitude do jogador do São Paulo, o Rodrigo Caio, frente ao seu adversário, o corintiano Jô, no clássico válido pela semifinal do Campeonato Paulista de 2017. O bambi, digo, são paulino corrigiu o árbitro na marcação de uma falta que levaria Jô a ficar ausente no próximo jogo. Essa atitude, mesmo isso trazendo potencial desvantagem pro seu time (e trouxe desvantagem mesmo) chamou a atenção da impressa futebolística. Afinal, é raro ver tamanha honestidade.

E nem é preciso ir longe pra comprovar essa raridade. O companheiro de zaga do Rodrigo, chamado Maicon, estava visivelmente frustrado com a atitude do parceiro, mesmo que não o tenha confessado claramente. Apenas disse que prefere a mãe dos adversários chorando que a dele. O mesmo sentimento apresentou o técnico do time tricolor.

Duas observações

Mas depois de contextualizar toda a situação para as possíveis mulheres que estão lendo o post, eis o que a postura de Rodrigo Caio evidencia: a superioridade do que me é conveniente em detrimento ao que é correto. Preferimos o que é melhor pra nós do que o que é correto. Isso é da nossa natureza corrupta: se preferimos a nossa vaidade e não Deus, o que dirá o bem-estar de outros homens.

Bem, isso não é nenhuma novidade. Procuramos não furar filas, lutamos pra liberar o assento pros idosos e tudo o mais. Mas no futebol a coisa é diferente. É pior! A segunda coisa que o episódio do jogo mostra é que o futebol reprime o correto. O censura. O ridiculariza como afeminado, fraco, quase que numa ética nietzschiana [1]. E faz isso porque cultua o campeão e não o desporto; cultua o homem e não verdade.

Grandeza

Enquanto fazia a série Humildade, o blog do Voltemos ao Evangelho liberou um e-book do C. J. Mahaney sobre o mesmo tema. Veja o que ele diz sobre o esporte:

"Se você assistir a qualquer jogo este fim de semana e ouvir o comentário do locutor, provavelmente perceberá a palavra grande sendo repetida durante todo o evento, como um mantra - grande, grande, grande. Contudo, em nossa cultura talvez não exista uma falta mais evidente de verdadeira grandeza do que no esporte profissional"[2]


É verdade. Os caras se acham maiores que qualquer outro porque ouvem isso da arquibancada. Tenho certeza que você conhece esportistas assim. Eles podem pintar e bordar porque sempre terá aqueles que os aplaudirão, recorrerão à justiça pra livrá-los das punições das arbitragens; desejarão ser como eles.

E isso é problema deles. O meu problema é jovens cristãos assumindo a mesma postura que eles. Extremamente arrogantes, superestimando seus caráter e feitos (Rm 12.3) e sem qualquer autoexame crítico. E nem invente de lhes dizer uma unha encravada. Sem falar na necessidade de ostentação, como se fossem especiais e precisassem estar sempre com aquele camisa ou tênis americano feito na China.

Quer um teste? Veja como eles reagem a uma chacota com a sua derrota ou do seu clube favorito. Eles simplesmente irão vomitar os seus feitios ou os títulos que o clube ganhou antes de Cristo. Eles não sabem rir e brincar do próprio fracasso e vexame. Os orgulhosos não sabem o que é isso. Eles não podem se rebaixar ao nível a barulhenta plebe. Por isso, aquilo não será uma brincadeira pra eles.

Imitadores

Paulo nos diz que o melhor exemplo pra imitarmos é Cristo (1Co 11.1). Já falei muito dessa passagem no post "A matemática, a Salvação e o jeitinho brasileiro", mas a usarei mais uma vez. Nela há o verdadeiro sentido de grandeza  porque vem do Grande:

Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal; E, qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo; Bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos.
(Mateus 20.26-28, ARC)

Consideremos os outros superiores, isto é, maiores (Fp 2.3). Aprendamos com Ele, que manso e humilde de coração (Mt 11.29).

Referências:

[1] A moral do filósofo Nietzsche. Está baseada na ideia de que a moral utilitarista (aquilo que é bom para os outros) é desprezível, é uma "moral do rebanho" implantada pelo Cristianismo. (Sproul, R. C. Filosofia para iniciantes. Editora Vida Nova.)
[2] MAHANEY, C. J. Humildade: verdadeira grandeza. São José dos Campo: Editora Fiel, 2008.

Comentários

  1. Bem oportuno, teologando a reflexão... Deus continue abençoando e inspirando para nos fazer orgulhoso e melhor. Abraço


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