O Deus que ora - Deus-homem #2

"Ele se afastou deles a uma pequena distância, ajoelhou-se e começou a orar" (Lc. 22.41)

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Orar parece fácil, mas não é. Assim como ler as Escrituras, a ação de orar parece exigir de nós uma força descomunal. E de fato, logo percebemos que isso é verdade quando vemos que entre nós e a oração há uma montanha chamada ego que precisamos afastar. Sim, para uma devocional viva precisamos do "venha a nós o Teu Reino" e este por sua vez exige que o nosso reino se vá. Nossas preocupações, afazeres e pensamentos intrusos.

Solitude

Por isso Jesus se utilizava frequentemente do isolamento para orar. Num século em que existe a internet interligando 8 bilhões de pessoas, fazer alguma atividade sozinho saiu de moda. "Mas Jesus retirava-se para lugares solitários, e orava" (Lc 5.16). E nos últimos momentos antes da crucificação isso não seria diferente. Ali, vemos o Mestre se afastar dos discípulos rumo ao isolamento dizendo de estar em profunda agonia (Mt 26.38). Entretanto, esse isolamento não é fruto de uma amargura que nos empurra para o canto de nosso quarto. O retiro de Cristo não O leva para uma passividade oriunda de uma depressão, mas para a atividade de quem procura o conforto do Pai.

Ao elaborar esse texto, - que aliás, foi inspirado numa série de sermões do Jonas Madureira - me deparei com uma frase de um problemático teólogo, o Paul Tillich: “A linguagem criou a palavra solidão para expressar a dor de estar sozinho. E criou a palavra solitude para expressar a glória de estar sozinho” . De fato, em sua tribulação, Jesus não procurou a solidão que sua dor exigia, Ele buscou a solitune para estar na presença do Pai em oração. Nosso Senhor orou. Em sua tormenta Ele não convoca um exército de anjos, mas humildemente se contenta com um tapinha nas costas de apenas um deles (Lc 22.43). Em sua dor Ele não cai no conselho da mulher de Jó, antes se volta para o Pai.

"... pois não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, mas sim alguém que, como nós, passou por todo tipo de tentação, porém, sem pecado. Assim sendo, aproximemo-nos do trono da graça com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade". (Hb 4.15-16)

Extrospecção celestial

No Getsêmani, Cristo nos mostra que a oração é diferente de qualquer yoga, meditação ou espécie de introspecção que há em outras religiões. A oração não nos leva a olhar dentro de nós mesmos; ela nos foca na majestade do Deus Vivo. Ela não nos serve o cálice que queremos beber, mas a vontade do Deus soberano sobre nossa vida. Isso nos mostra o significado de viver Coram Deo: estar diante da face de Deus, mesmo que o sofrimento queira nos levar ao espelho de Narciso. Que nessa sexta-feira de páscoa possamos repetir a atitude de nosso Senhor, nos ausentando do mundo e de nós mesmos para procurarmos a presença do nosso Deus.

Atualização: esqueci de pôr o vídeo! Adicionado 24 horas depois.


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