A matemática, a Salvação e o jeitinho brasileiro - Série Humildade #3
Os discípulos ficaram perplexos, e perguntavam uns aos outros: "Neste caso, quem pode ser salvo? " Jesus olhou para eles e respondeu: "Para o homem é impossível, mas para Deus não; todas as coisas são possíveis para Deus". (Mc 10.26-27, NVI)
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O que eu quero dizer é que era impossível uma redenção para nós. As leis divinas não abrem brechas. Elas são perfeitas. Mas, pra nossa sorte, Deus também é onipotente e todo amoroso. Como amoroso, se inclinou pra condição deplorável da criação; como Todo-Poderoso, só Ele pode encontrar uma solução impossível.
A matemática de Deus
Veja bem, como dito, os padrões de Deus são perfeitos e não há falha neles. Como então Ele nos livraria de Sua justiça, aplicando-a? A heresia, digo, analogia mais próxima que consegui pensar continua na matemática. Acontece que para problemas em que não havia solução real, os matemáticos trouxeram à realidade o conjunto dos números complexos. Assim, eles conseguiram resolver os problemas sem invalidar as leis matemáticas. Sim, eu sei você não vai com a cara da coitada, mas foi o melhor que consegui. O ponto é que Deus também trouxe à realidade um novo paradigma. Mas como Ele fez isso?
As Crônicas de Nárnia
A resposta todos nós sabemos: o Verbo se fez carne. A Palavra se encarna no ventre da mulher e sofre o castigo que nos traz a paz, recebendo a punição por nossas transgressões. O Santo se fez pecado. O inimaginável se torna real. Entenda: Deus deu um jeitinho de cumprir com Sua justiça e nos colocar numa posição bem mais favorável diante dEle. O jeitinho divino mata dois coelhos com uma cajadada, e sem corrupção, diferente do nosso jeitinho brasileiro. C. S. Lewis traz uma útil interpretação dessa virada de mesa no primeiro volume da série Crônicas de Nárnia, O leão, a feiticeira e o guarda-roupa, quando Alsam recebe a punição no lugar de Edmundo (por favor, diga que pelo menos viu o filme. É difícil pensar em exemplos).
Kenosis: a humildade encarnada
Agora é que chegamos à humildade. Pense bem: o Filho decide na eternidade passada sentir o peso do pecado contra seu amado Pai, se despir de Sua divindade em alguma medida, sentir o gosto da humilhação, rejeição e morte. Todos esses pontos estão em uma escala de intensidade que jamais compreenderemos. Só tocamos como quem analisa o infinito. Eu não tenho a habilidade poética de fazer você se pôr em tais condições. Só o Santo Espírito pode fazer isso. Mas olhemos pra o que as Escrituras dizem em Filipenses 2.5-7:
"Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz!"
Cristo é a humildade em pessoa. É a expressão máxima dela. Somente um Ser infinitamente superior poderia rebaixar-se à humildade máxima. Somente um ser onipotente e humilde poderia fazer todo esse "malabarismo cósmico" impossível pra se reconciliar com criaturas como nós. Nós adoramos o Deus humilde. Glórias a Deus!
Agora, veja o que nosso Senhor nos diz em Marcos 10, a partir do versículo 32. Cristo revela aos doze que iria ser condenado e ainda assim, Tiago e João olham pra seus umbigos e pedem pra se sentarem ao lado do Rei. Jesus pacientemente mostra a burrice do pedido deles - eu ficaria extremante ofendido com a falta de altruísmo deles - e fala pros doze "... Quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo; e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo de todos. Pois nem mesmo o Filho do homem veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (v. 43-45). Eis ai a resposta pra essa série de posts!
Ao contrário do que se pensa, a humildade não se trata de quão talentoso você é ou quanto recurso você tem. Não se trata de aprendermos certos hábitos que a etiqueta diz seres modestos. Não é abrir mão de um elogio válido. Humildade não é uma virtude; é uma ação. Se trata de sermos imitadores de Cristo quando Ele, sendo Deus, esvaziou-se vindo a ser homem, lavando os pés dos seus discípulos (Jo 13.14) e sofrendo a pior morte por causa de gente como a gente. Se trata assumirmos a mesma posição de servo que o Mestre e fazermos tudo conforme Ele fez.
Não somos humildes. Nosso coração quer comer do fruto todos os dias na esperança se sermos iguais a Deus, senhores do nosso próprio nariz. Somente a repetitiva contemplação do milagre da matemática de Deus e sua kenosis nos impedirá de reivindicar acentos ao lado do Senhor. Somente através dEle podemos alcançar a humildade.
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