Das migalhas que desperdiçamos faremos janta - 17 de janeiro #2


Certo domingo fui andar de skate no campus da UFPB com a namorada. Depois de algumas voltas chegamos ao centro de saúde, que é bem distante de onde estudo. Foi ali onde, há alguns anos, eu chorava de frente ao prédio onde deveria fazer a última prova do vestibular e ser aprovado, provavelmente entre os três primeiros. Mas fui pego com o celular no qual usaria para conseguir um alternativo e voltar para minha cidade. 

Hoje, cursando minha graduação, pude parar o patins da minha namorada e dizer: das migalhas que desperdiçamos vamos fazer uma janta. Pude me avistar sentado a beira do caminho, errante no mundo.  O espaço era o mesmo, mas havia uma distância temporal considerável. Foi dali que passei um ano estudando sozinho enquanto cuidava da loja da minha mãe. Foi dali que comecei a enfrentar meus maiores vícios e a engatinhar no caminho da tão sonhada perseverança. Durante essa retrospectiva, tive alguns segundos de silenciosa degustação dos insondáveis caminhos do Senhor.



Infelizmente, eu gostaria de ter me sentado nessa mesa muito antes, conforme o livro de Hebreus tem me ensinado.

Nuvem de testemunhas

No capítulo 12 desse livro, o autor nos oferece uma dessas jantas nutritivas. Depois de listar os heróis da fé no capítulo anterior, ele se refere a eles como nuvens de testemunhas (v. 1). São exemplos que comprovam a fidelidade de Deus e o poder da fé em Cristo, mesmo que ainda vissem o Messias de longe e morreram sem receber a promessa (v. 13 e 39). Depositaram a sua vida, confiança e esperança em Deus sem desfrutar da Promessa na Terra.


Hoje podemos firmar nossos passos em momentos de aflição através dessas testemunhas. As Escrituras como um todo são um canhamaço que testifica a fidelidade do Senhor. Quando lemos, "Deus que fez os céus e a Terra", é um lembrete de todo o poder e autoridade do Criador; quando vemos "Deus de Abraão, Isaque e Jacó", é o post-it para encostarmos a cabeça no peito desse Deus na certeza que Ele é fiel para com os seus.

Como é feliz aquele cujo auxílio
é o Deus de Jacó,
cuja esperança está no Senhor, no seu Deus, que fez os céus e a terra,
o mar e tudo o que neles há,
e que mantém a sua fidelidade para sempre! (Salmo 146.5-6)

Miopia espiritual

O problema é que consideramos tais provas como migalhas quando passamos por elas. Sequer as levamos em consideração. Nossos olhos ficam míopes e nos reduzimos a nós mesmos, lambendo nossas feridas. A culpa afronta, o orgulho imobiliza e nos afastamos da fonte de fé que é a Bíblia. Por isso o versículo continua nos admoestando: "livremo-nos de todo peso e do pecado que tão firmemente se apega a nós" (v. 1b, NAA).

Aqui eu não posso falar outra coisa senão da minha fraqueza. Os mais próximos sabem a minha dificuldade em me livrar da culpa, do medo e da autocomiseração. Tenho ciência de que "a preocupação é incompatível com a fé cristã" [1]. Por isso considero alguns estados depressivos como uma afronta a Deus, o pecado de desperdiçarmos  as bençãos do Senhor como migalhas. 

Apeguemo-nos com firmeza à esperança que professamos, pois aquele que prometeu é fiel. (Hebreus 10.23)

A mãe da esperança

A solução para tamanha ingratidão é dita no versículo seguinte: "olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus" (v. 2 NAA). Como é tremendo e acalentador esse versículo. Deus sabe o quanto eu me conforto na doutrina da preservação dos santos. Em momentos em que estamos completamente envoltos no lamaçal do pecado, Cristo nos estenderá os braços e dirá: "a graça que te trouxe manterá você fiel a mim". Fitá-lo é a solução para qualquer miopia espiritual. Ele é o autor da nossa fé, não nós.


Além disso. Essa é uma promessa a consumação da fé, o aperfeiçoamento dela. O capítulo continuará mostrando como as dificuldades são disciplinas divinas para que firmemos nossos pés, tornando nossa fé mais sólida (v. 11-13). Estar sendo moldado pelo Oleiro, ser receptor de Suas disciplinas a fim de dá-Lo mais contentamento é, como mostrou Lewis, um peso de glória possível de suportar apenas pela obra de Cristo.

Naquele dia em que fui eliminado do vestibular, de repente um senhor me abordou enquanto eu fazia aquela cena. Ele perguntou se eu estava bem. Há, como eu gostaria de voltar ao passado e ser aquele homem. Eu tocaria no meu ombro, daria aquele sorriso de sabichão e diria a mim mesmo: corra com perseverança a corrida que lhe é proposta, mantendo os olhos em Cristo.

Notas

[3] LOPES, Hernandes Dias Lopes. Comentários expositivos Hagnos. Editora Hagnos, 2010;

Descobri essa música há pouco na igreja. Fica a dica:

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