Entendendo a piada - #1

Texto base: 1 Coríntios 1.1-9
É evidente que a Igreja vem sofrendo críticas internas atualmente, alguns certamente tem um fundamento. Membros são rápidos em criticar suas comunidades. Além disso, no cenário mais amplo da internet, personagens de maior evidência no cenário gospel também não se entendem e discutem calorosamente.

Não obstante, aqui está você, meio perdido no meio dessa gritaria. Sua Igreja parece que perdeu o rumo, seus líderes não lideram com zelo, a doutrina já não está sã mas bem doente, a unidade só aparece nas confraternizações. O que fazer?

Era esse o cenário que Paulo descobriu na Igreja de Corinto. A comunidade estava dividida, confusa quanto a verdades fundamentais do Evangelho e rendida pela imoralidade sexual que a cidade praticava, chegando até a abrigar um incesto [1].
Entretanto, ao começar seu discurso para com essa Igreja, Paulo dá graças a Deus por esse povo (v. 4). Isso não é nada comum! A Igreja sucumbia, agonizava em seus delitos, envergonhava o Evangelho, e Paulo agradece a Deus por esses cabras safados?

Evidências da graça

A verdade é que Paulo enxergou o que nós frequentemente não observamos: as evidências da graça [2]. Esse é um pecado meu. Sou tão crítico comigo que me cobro demais, critico quem está próximo e a realidade ao redor. Perceba: estamos tão ocupados com nossa indignação, tão cegos por nosso repúdio, que não enxergamos a graça de Deus em nossa comunidade. Ao contrário, estamos sempre a ponto de dá mais uma crítica.

Todavia, Paulo viu que os coríntios tinham sido enriquecidos pela graça (v. 5). De fato, a história dessa Igreja não deixa dúvidas disso. Ela é fruto da segunda viagem do apóstolo. Lá o chefe da sinagoga judaica foi convertido (At 18.8) e o Senhor revelou a Paulo numa visão que havia muitos ali que eram dEle (At 18.10). Aquela Igreja era de Deus (v. 2). Ela foi concebida em Seu coração e veio a existir pela pregação das boas novas (v. 6). 

Continuação da série:

Fidelidade de Deus

A estranha graça que Paulo levanta é porque a Igreja em Corinto era uma evidência da graça e fidelidade de nosso Senhor. Por três vezes Paulo usa o termo "chamado" para trazer à pauta o propósito de Deus. Em meio a um rebanho infiel a confiança do apóstolo estava em Deus. É Ele quem conduziria esse rebanho à santidade (v. 8-9). Na verdade, esse início da carta é quase uma paráfrase ao início da epístola aos filipenses: "Estou convencido de que aquele que começou boa obra em vocês, vai completá-la até o dia de Cristo Jesus" (Fp 1.6). O Senhor é o alicerce da Igreja.
Isso quer dizer que devemos cruzar os braços e esperar por uma intervenção divina? Pelo contrário. Essa compreensão nos leva mais ainda a busca por uma "reforma" na Igreja Brasileira. Perceba que a visão de Paulo não fez com que ele passasse a mão na cabeça da Igreja, mas a repreendê-los em quase toda a carta, como veremos no decorrer da série.

O que eu quero dizer é que há pelo menos três atitudes que um cristão pode tomar frente aos supostos problemas na congregação dos santos:
  1. Não enxergar as evidências da graça, resmungar com o irmão do lado, criticar e procurar mais defeitos. Esses nunca farão nada além de levantar o dedo;
  2. Não enxergar as evidências da graça e por isso querer consertar tudo com a força do seu braço, com a potência do seu grito e sua suposta habilidade quase que luterana para "reformar";
  3. Observar as evidências da graça e assim entender que a Igreja é do Senhor. Os que constatam isso serão aqueles que, assim como Paulo, corrigirão os erros em amor (Ef 4.16), pois amam o Senhor da Igreja e por isso a própria Igreja. Sendo assim, se submeterão a Deus e a Sua Palavra para encontrar as saídas, não aos seus próprios gostos e caprichos.
Para esses, será impossível ficar imóvel, pois confiam no Deus da Igreja e entendem que são uma parte do todo, encaixados ali para agregar e servir, chamados para a comunhão em Cristo (v. 9) e não para divisões. Aqueles que olham para suas comunidades imperfeitas com um sorriso no rosto é porque entenderam a "graça" da coisa. Esses sim, darão frutos.

"Eu de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar pelas vossas almas." (2Co 12.15a)

Notas

[1] Hernandes Dias Lopes. 1ª Coríntios - Comentários expositivos Hagnos
[2] MAHANEY, C. J. Humildade, verdadeira grandeza. Editora Fiel, 2008.

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