O Evangelho segundo Game of Thrones

A sétima temporada de Game of Thrones (GoT) terminou, e mais um vez ela deu pano pra manga. Seja pela fase derradeira da trama, seja pela questionável produção da última temporada ou até mesmo sobre a recomendação do John Piper para cristãos não assistirem a série [1]. 

O que eu ainda não vi é a galera falando sobre a versão do evangelho cristão que a produção explora. Sério! Se você não consegue ver como uma série de promiscuidade, corrupção e traição tem de cristão, eu explico. 

Game of plágio 

Conheça Jon Snow. Nascido fora, mas criado no norte do reino, uma região pobre; não reconhecido como filho legítimo da família Stark - apesar de o ser -, passando sua vida sendo rejeitado por isso. Seu pai, aliás, é o modelo de de conduta de Jon e é frequentemente citado pelo filho, mesmo que esse pai tenha sido morto pelo povo. 

Jon vai crescendo durante a trama. Se doa por amor ao povo que o escolheu para ser rei, mesmo não sendo esse seu propósito. Mesmo assim, em alguns períodos esse povo perde a fé em Snow, chegando ao ponto de alguns traidores o esfaquearem, e mesmo assim o cara ressuscitou. Há! Jon ainda é a convergência de toda a trama e seus conflitos. Ele partilha duas "naturezas" familiares que o tornam apto para trazer a redenção do reino. 

Notou o paralelismo? Eu quase descrevi a vida do Senhor Jesus Cristo. Desde a geografia do Seu nascimento, Sua rejeição como Filho de Deus, até o Seu Senhorio e centralidade, traição, morte e ressurreição. "Ta na cara, ta na capa da revista". [2] 

Bússola bugada 

E o que isso significa? Nada? Errado, cavalinho ateu do fantástico. Significa que eu, você e o cavalinho ateu ansiamos o Cristo. Mesmo que tentemos nos rebelar contra Ele até mesmo na literatura imaginativa e na tela da novela da nove, a Sua marca está em nós.

Calvino chama isso de sensus divinitatis [3], a intuição natural que o homem tem de Deus. Mas não é qualquer deus, reverendo santo Calvino. É o Deus trino cristão. É o Deus Filho! O único que se fez homem, mantendo a natureza de Deus, e morreu traído pelo seu próprio povo, ressuscitando em favor dele.

Paulo diz em Romanos que quando os homens abdicaram do Deus invisível, Seu espaço não ficou vazio, mas ocupado com coisas criadas (Rm 1.20-23). De fato, a palavra grega para pecado é hamartía (άμαρτία), que pode ser traduzida por "errar o alvo" [4]. E quem era o alvo acerta em outra coisa que não deveria. 

Uma frase atribuída a Dostoiéviski que diz que "há no homem um vazio do tamanho de Deus". O problema é que mesmo quando nossa sociedade contemporânea brada que "Deus está morto" [5], ela continua buscando e admirando os atributos desse Deus cristão em qualquer expressão de seu ser, desde GoT até a política. No fim, somos uma bússola bugada. 

Meu amigo, seu ser deseja o Senhor Jesus, mesmo que você tente negá-Lo. Você o aplaude nas artes, escreve sobre Ele, admira Seus santos mandamentos, anseia encontrá-Lo na forma de Bolsonaro ou do técnico Tite. Arrependa-se. Retorne a real natureza de sua criação e verdadeiramente O encontre no Seu verdadeiro palco que é a Igreja.

"Porque tu nos fizeste para ti, e o nosso coração permanecerá inquieto enquanto não repousar em ti" [6]

Notas  

[2] Trecho da famosa música "O papa é pop" dos Engenheiros do Hawaii; 
[3] Não sei bem onde vi isso. Estou longe dos meus livros. Mas acho que é aqui:  
SPROUL, R. C. Filosofia para iniciantes. Editora Vida Nova, 2002. 
Tem um bom texto sobre isso aqui: 
[4] GRANCONATO, M. Pequeno manual de doutrinas básicas. Editora Hemeneia, 2014 
[5] Famosa máxima de Nietchski; 
[6] Agostinho, Confissões apud MADUREIRA, J. Inteligência Humilhada. Editora Vida Nova, 2017. 

Comentários

Postagens mais lidas no mês

Entendendo a piada - #1

Política é coisa do capeta? - Política #1

A teoria Dragon Ball Z - Política #3