Você vai se arrepender de ler isso - Série Humildade #2

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O idioma alemão tem uma palavra pra tudo. Essa coisa de não ter palavras pra expressar não rola pros alemães, e mesmo assim, eles devem ter uma palavra pra esse sentimento. Uma prova disso é a palavra Buße, algo próximo de arrependimento, mas que traz uma ideia de penitência. Como a palavra "arrependimento" está muito sem força no nosso léxico gospel, aludir pra um arrependimento que gera um sentimento de culpa ajudar a entender a profundidade do tema.

Jogo dos erros

Essa alusão é necessária porque raramente nos arrependemos e compreendemos o significado disso. Num primeiro momento, há uma dificuldade monumental de assumir o erro. É impressionante o quão nós, tão rápidos no falar, nos emudecemos diante da palavra "desculpa". Há se tivéssemos tanto temor a Deus quanto temos dessa palavrinha. Particularmente, quando eu sou apanhado em falha, sai um "foi mal", seguido de uma justificativa evasiva falada quase sem backspace e uns dois segundo de silêncio do envergonhado. Mas vergonha de quê, afinal?

Condição necessária a vida cristã e santidade

Ora, se eu sou cristão, sei que não há em mim nada de justo. Já nasci em erro e até calado eu to errado. Então por que essa relutância à confissão do erro? Porque eu sou erro! Essa é a natureza humana: negar qualquer vestígio de impotência, curvar-se diante de si mesmo, e comer da árvore que, julgamos, nos fará perfeitos e sem falhas, iguais a Deus. E Satanás faz o serviço completo: tenta-nos e caímos, e de bônus teimamos que estamos de pé com as costas retas e peitos estufados.

Por isso o arrependimento se mostra primordial na vida cristã. Se Deus ainda não livrou desse corpo corrupto, saber reconhecer o erro e arrepender-se de tê-lo cometido é indispensável para uma constante manutenção da intimidade com o Senhor. É um exercício de autocrítica, autoexame periódico para detectar erros; humilhação, esvaziamento de si ao confessá-lo perante o Pai; e um exercício de paciência, quando se descobre que esse é um ciclo que se repete inúmeras vezes.

Arrependimento é uma adoração a Deus

Mais ainda, quando confessamos nossos erros e nos encontramos em Buße, estamos num ato de adoração a Deus. Por dois motivos: 1. Se verdadeiramente reconhecemos o nosso erro, reconhecemos porque olhamos para a perfeição do nosso Deus e de seus preceitos. Reconhecemos Sua autoridade e nos envergamos diante dela, nos prostramos diante dela. Isso é adoração. 2. Quando pedimos justificação, reconhecemos a obra de expiação de Cristo, negligenciamos qualquer subterfúgio e reconhecemos que só Ele é quem pode nos justificar. Estamos olhamos para a cruz.

Condição necessária a pregação do Evangelho

Usando uma Bíblia em software, constatei que o livro que mais se utiliza do termo "arrependimento" é Atos. Ora, esse é o livro que conta a história do início da propagação do Evangelho pela Igreja. Os apóstolos sabiam que somente pelo arrependimento se enxerga a cruz. É somente quando eu entendo que estou em pecado é que eu percebo a necessidade da cruz. E a necessidade gera o desejo, o anseio, o quebrantamento.

Todos os evangelismos "cor-de-rosa" caem por terra quando entendemos que somente a indução ao arrependimento escancara o efeito nocivo do pecado ao ímpio cego, que agora pode ver seu terrível destino e a grandiosa misericórdia que Deus o oferece. É essa a intenção do Santo Espírito ao mover os nosso lábios (Jo 16.8). Só então fica evidente o amor da cruz.

Livres da punição

Como falei, o termo Buße tem um sentido de amargura que gera punição. É como se empunhássemos o próprio peito de amargura. Isso é culpa; remorso. É o que Paulo vem esclarecer em 2Co 7.9. Um arrependimento que não é, como dito antes, voltado para a perfeição do Senhor, é um arrependimento voltado para a imperfeição de si. E essa amargura leva ao desespero do irremediável, do fracasso, do insolúvel. Quando o homem é a medida de todas as coisas, a mensuração de seus falhas será sempre o erro. É como se guiar por uma bússola que aponta para o sul.

Mas os que são guiados pelo Espírito tem o privilégio de serem repreendidos pelo seu Senhor. E o tamanho desse privilégio nem o alemão tem como descrever.

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